Expedição Patagônia Chilena
Carretera Austral 2017 - Troller
Por Alexandre e Eliane
RIO DE JANEIRO | PATAGÔNIA CHILENA | CARRETERA AUSTRAL
Relato sobre a viagem que eu e minha esposa fizemos em janeiro de 2017 ao sul da América do Sul para percorrer a Carretera Austral e conhecer a Patagônia Chilena. Foram 28 dias de viagem, percorridos 12.000 km entre Brasil, Argentina, Chile e Uruguai, a bordo de um Troller 2016.
A Carretera Austral
A Carretera Austral (Ruta CH 7) começou a ser construída em 1976. O objetivo era integrar uma enorme região do Chile, até então completamente isolada e inacessível por terra. O único acesso eram ligações por trilhas e estradas precárias com a vizinha Argentina.
Até hoje a Carretera ainda está em construção. Em seu percurso tem-se a oportunidade de admirar cachoeiras, geleiras, montanhas nevadas, vulcões, lagos de águas turquesas e rios espetaculares.
Por conta de tanta beleza natural, riqueza cultural e persistente isolamento geográfico, turistas do mundo inteiro são atraídos para a região pouco conhecida pelos brasileiros.
A Carretera Austral é um dos destinos mais desejados por turistas de aventura. Como é um destino isolado e de difícil acesso, a maior parte de estradas são de rípio com trechos off road, é importante um veículo 4x4 “de verdade”, por razões de segurança.
Roteiro
O objetivo da viagem era conhecer a Patagônia Chilena e a Carretara Austral.
A aventura propriamente dita começou em El Bolson, uma pequena cidade localizada a 120 km ao sul de Bariloche, ainda na Argentina e, terminou em Puerto Varas, no Chile.
Do Rio de janeiro a El Bolson foram 7 dias de viagem, 4535 Km. Saímos no dia 05/01/2017 e chegamos a El Bolson em 11/01/2017, passando por Curitiba, Foz do Iguaçu (onde entramos na Argentina), Corrientes, Santa Fé, Santa Rosa, Neuquén e Bariloche.
A partir de El Bolson, entramos no Chile em Futaleufú, descemos a Carretera Austral no sentido Sul até Aldana, que fica a 50 km de Puerto Tranquilo. De lá retornamos, agora no sentido norte, até Puerto Montt, marco zero da Carretera Austral. Entre Puerto Cardenas e Puerto Montt a Carretara não é contínua. O sistema é bimodal, intercalando trechos de estrada com percursos de balsas.
De Puerto Montt / Puerto Varas ao Rio de Janeiro foram 10 dias, passando por San Martin de Los Andes, Neuquén, Santa Rosa, Buenos Aires, Rivera no Uruguai, Porto Alegre, Joinville e São José dos Campos.
O diferencial das estradas na Argentina é que não têm tráfego, são poucos caminhões e não há “pardais” ou quebra-molas, o que torna a viagem muito tranquila apesar das distâncias.
1º Dia | 05/01/2017 | Quinta-feira | 842 Km | Rio de Janeiro - Curitiba
Saímos do Rio de Janeiro e fizemos uma parada na Troller de Taubaté para buscar uma mangueira do turbo que tinha encomendado para levar como reserva (a “Trilha Rio”, na época, não tinha esta mangueira em estoque) e, com se tratava de um dia útil, decidimos por não atravessar São Paulo.
Optamos pelo Rodoanel, na Airton Sena. O percurso foi pela Imigrantes até o litoral, BR101 sentido sul até Miracatu e BR116 sentido Registro / Curitiba.
Consideramos a alternativa boa uma vez que evitamos o trânsito da Marginal e da Serra do Cafezal na BR116. O trecho do litoral foi cansativo, velocidade média baixa devido a quantidade de radares, com limites de velocidade aleatoriamente diferentes.
Ao chegar em Curitiba (não entramos na cidade), ficamos hospedados no Hotel Rio Hotel Bourbon que fica na região do Aeroporto próximo ao entroncamento com a BR277, estrada que liga Curitiba a Foz do Iguaçu.
2º Dia |06/01/2017 | Sexta feira | 631 Km | Curitiba - Puerto Iguazu, Argentina
Saímos de Curitiba em direção a BR277, rodovia que liga Curitiba a Foz. Trata-se de estrada de mão dupla, com trafego intenso de caminhões, que requer cuidado e atenção.
Foi feita uma parada em Cascavel para o almoço e chegamos a Foz no final da tarde. Fomos direto ao Duty Free Shopping de Puerto Igazu, localizado há alguns metros antes do Posto de Fronteira, passagem obrigatória para que pretende ir a Argentina. O Shopping é agradável e organizado. Vale a pena a visita e recomendamos um lanche nos cafés.
De lá passamos pela aduana sem problema e fomos direto para o Hotel Mercure Igazu Iru, localizado numa região contigua ao Parque Nacional no lado Argentino. O Hotel é excelente e poderia ter programado mais um dia para aproveitar as Cataratas por outro ângulo.
Cabe registrar uma diferença de fuso (uma hora a menos) entre o Brasil e a Argentina e as casas de câmbio em Puerto Igazu fecham às 18 hs.
3º Dia | 07/01/2017 | Sábado | 627 Km | Puerto Iguazu - Resistência
Saímos de Puerto Iguazu pela Ruta 12 e chegamos a Resistência com muita chuva. No caminho encontram-se as ruínas jesuíticas (bem preservadas) em San Ignácio das Missiones. Recomendamos a quem ainda não teve a oportunidade de visitar, programar uma parada (já havíamos visitado numa viagem anterior).
Não vimos na cidade de Resistência outros atrativos. Ficamos hospedados no Hotel Amerian Cassino, embora bem localizado, integrado a um Cassino é muito antigo e está mal conservado (não recomendamos este Hotel). Talvez tivesse sido melhor pernoitar em Corrientes, 21 km antes de Resistência as margens do Rio Paraná.
4º Dia | 08/01/2017 | Domingo | 545 Km | Resistência - Santa Fé
Saímos de Resistência pela Ruta 11 e chegamos a Santa Fé no meio da tarde. Nosso hotel foi o Inter Tower Hotel. Ótimo hotel e aproveitamos para descansar. Afinal já era o quarto dia de estrada e 2645 Km percorridos.
5º Dia | 09/-1/2017 | Segunda feira | 801 Km | Santa Fé - Santa Rosa
Saímos de Santa Fé pela Ruta 11, pegamos a Ruta 33 até o entroncamento da Ruta 5 e chegamos em Santa Rosa no final da tarde.
Santa Rosa é capital da província de La Pampa, na Argentina. A cidade tem cerca de 100 mil habitantes, é muito agradável e ficamos hospedados no La Campina Club Hotel & Spa. Excelente hotel, com bom restaurante que nos proporcionou recarregar as energias para seguir viagem.
6º Dia | 10/01/2017 | Terça feira | 540 Km | Santa Rosa - Neuquén
Saímos de Santa Rosa pela Ruta 35, pegamos a Ruta 152 e continuamos nela após o cruzamento com a Ruta 143. Após, seguimos na Ruta 151 até Neuquén (o caminho mais curto seria continuar na Ruta 152 até a Ruta 22, mas fomos informados que este trecho está em péssimo estado e deve ser evitado).
Neuquén é uma província petrolífera argentina que vem crescendo nos últimos anos. Sua infraestrutura acompanha este crescimento e a cidade conta com bons hotéis, shoppings, aeroporto, concessionárias de veículos, hospitais e etc.. Escolhemos o no Hotel Howard Johnson, novo, com ótima localização e excelente custo benefício.
7º Dia | 11/01/2017 | quarta feira | 543 Km | Neuquén - El Bolson (via Bariloche)
Saímos de Neuquén com destino a Bariloche (426 Km). Nosso objetivo era revisitar a cidade e almoçar. Optamos pela Ruta 40, uma rodovia icônica, que percorre o país de sul a norte desde a província de Santa Cruz até a divisa com a Bolívia, margeando a Cordilheira dos Andes.
O tempo em Bariloche estava lindo, almoçamos no El Boliche do Alberto que serve um dos pratos de carne mais saborosos que já experimentamos.
De volta a Ruta 40, após mais 117 Km, chegamos a El Bolson no início da noite.
El Bolson é uma pequena cidade turística argentina localizada na região patagônica no extremo sudoeste da província de Rio Negro. Destacamos uma paisagem de montanhas, bosques de coníferas, rios e lagos.
O hotel escolhido foi Hotel Cumbres, situado na rua principal da cidade. Jantamos no próprio hotel.
8º Dia | 12/01/2017 | Quinta feira | 263 km | El Bolson (Argentina) - Futaleufú (Chile)
Saímos de El Bolson pela Ruta 40 sentido sul até a cidade de Esquel. Paramos para abastecer e encher o galão extra de 20 litros de combustível. A partir daquele ponto iríamos cruzar a fronteira por um passo secundário, em estradas de rípio e as distâncias entre postos de serviço seriam grandes.
Partindo de Esquel, seguimos pela Ruta 259 até a cidade de Trevelin, onde acaba a pavimentação e começa o rípio. Seguimos em direção ao Passo Internacional Rio Futaleufú, fronteira entre a Argentina e o Chile. Não gastamos muito tempo na fronteira e chegamos com relativa facilidade em Futaleufú apesar do GPS não ter sido muito preciso na região. A dificuldade maior foi encontrar o Hotel, pois não tínhamos o endereço, apenas as coordenadas.
9º Dia | 13/01/2017 | Sexta feira | Futaleufú e região
O dia amanheceu lindo, céu azul, completamente diferente do dia anterior com muita chuva.
Aproveitamos para conhecer a região. Futaleufú é uma pequena cidade chilena, com cerca de 1800 habitantes. A cidade deve o nome ao seu principal rio (rio Futaleufú) que é conhecido por ser um dos mais espetaculares do mundo para a pratica de rafting e canoagem. O rio figura entre os cinco melhores para esportes de corredeira. A região também oferece excelentes opções de trecking, cavalgada e trilhas de montain bike. São paisagens únicas que não estamos acostumados a ver.
A região também oferece boa estrutura de recepção aos turistas, com restaurantes, pousadas, Chalés e Lodges. Chamamos a atenção para estes Lodges, que são hotéis não convencionais, mas muito confortáveis e sofisticados.
Em Futaleufú ficamos hospedados duas noites no El Tineo Patagônia, um Lodge espetacular localizado na Ruta Ch 235 a 24 Km do centro de Futaleufú. Os quartos são cabanas luxuosas, indevassáveis, no meio de uma paisagem deslumbrante. Para completar uma culinária sofisticada com Chef de cozinha internacional. Espetacular.
10º Dia | 14/01/2017 | Sábado | 408 Km | Futaleufú - Puerto Chacabuco
Partimos de Lodge em Futaleufú com destino a Puerto Chacabuco (408 Km) e, após percorrer 52 km na Ruta Ch 235, chegamos no entroncamento com a Carretera Austral na altura de Villa Santa Lúcia (250 habitantes).
A outra opção seria chegar neste mesmo ponto a partir de Puerto Montt no Chile, marco zero da Carretera, mas o percurso é bimodal, estrada / balsa e, como não conhecíamos bem o esquema de funcionamento dessas balsas, optamos por fazer este percurso na volta.
Rumo sul na Carretera Austral, passamos por La Junta (cidade de 1000 habitantes). Este trecho corre dentro de um vale e por Puyuhaupi, cidade de colonização alemã. A fama do local está relacionada a Termas do Vesqueiro e as Termas de Puyuhaupi, luxuosos resorts a beira do lago com banhos termais e serviços próprios de navegação.
Continuando no sentido sul. Os primeiros 20 km correm às margens do Canal de Puyuhaupi, braço de mar do Oceano Pacífico. Em seguida, a Carretera entra pelo vale do Rio Queulat antes de chegar a bifurcação Puerto Cisnes / Coyhaique. Puerto Cisnes (2500 habitantes) é uma pequena vila pesqueira com estrutura muito simples de recepção a turista.
Da bifurcação de Puerto Cisnes até a bifurcação que dá acesso a Puerto Aysen e Puerto Chacabuco, são mais 130 Km de rípio. A partir de então, asfalto até Puerto Chacabuco.
11º Dia | 15/01/2017 | Domingo | 120 Km | Puerto Chacabuco e Região
Puerto Chacabuco (1300 habitantes) é um importante porto oceânico para as atividades turísticas e escoamento da produção da região (lã, carne de ovelha e madeira). É uma cidade portuária que não tem atrativo especial, mas é a base para se visitar as geleiras da Laguna San Rafael e o entorno da região.
Em Puerto Chacabuco ficamos hospedados no Hotel Loberias del Sur que oferece hospedagem de bom nível e um serviço de Catamarã “ all inclusive”, para visitar a Parque Nacional Laguna San Rafael. O Hotel é tido como um resort de luxo, mas atendeu as nossas expectativas. A diária é cara, mas não identificamos melhor alternativa que conciliasse hospedagem e passeio à Laguna.
O dia foi para descansar no hotel e conhecer a cidade.
12º Dia | 1601/2017 | Segunda feira | Passeio a Laguna San Rafael
O passeio a Laguna San Rafael é feito em confortáveis barcos tipo Catamarã. Leva o dia inteiro navegando até o Campo de Gelo Norte Patagônico. Ao chegar lá, o barco dá uma parada e tivemos a oportunidade de chegar bem próximo das geleiras via barcos infláveis, numa experiência inesquecível. Durante todo o percurso de ida e volta fica-se contemplando a paisagem do Parque Nacional. Chegamos de volta ao hotel no início da noite.
13º Dia | 17/01/2017 | Terça feira | 270 Km | Puerto Chacabuco - Puerto Tranquilo
De volta a estrada, rumo sul, pegamos a Ruta Ch 240 em direção a Coyhaique e depois retomamos a Carretera (Ruta Ch 7). Observamos que a paisagem mudou nitidamente. O espaçamento maior entre os picos mais elevados, assim como a diminuição da altitude das montanhas mistura o ar mais seco dos planaltos argentinos ao ar úmido e frio chilenos.
Foram mais 270 km de rípio, num clima frio e mais seco, vegetação baixa e terreno rochoso. Foi nesse trecho que ocorreu o único incidente da viagem. Uma pedra trincou o para-brisa do Troller (que foi trocado pelo seguro, na volta, sem nenhuma dificuldade).
Chegamos a Puerto Tranquilo após um dia de viagem ótimo.
Ficamos hospedados no Mailin Colorado Ecolodge, outro hotel tipo Lodge espetacular, localizado as margens da Carretera de frente para o lago.
14º Dia | 18/01/2017 | Quarta feira | 80 Km | Puerto Tranquilo e Região
Puerto Tranquilo é uma comunidade as margens do Lago General Carrera, com águas cristalinas de cor esmeralda, onde se encontram as chamadas “Capillas de Mármon”. São formações rochosas que brotam da água do lago na forma de cogumelos flutuantes. São grandes o suficiente para se entrar de barco dentro delas. Visita obrigatória para quem está na região.
Este foi o ponto mais ao sul da nossa viagem. Estávamos a 5680 km do Rio de Janeiro e precisávamos iniciar o nosso retorno.
Cabe registrar que a Patagônia Chilena tem características únicas pela sua diversidade e isolamento da região. Encontramos pessoas do mundo todo, alguns viajando com o seu próprio veículo (moto home da França, motociclistas alemães, ciclista do mundo inteiro, entre outros).